COLÓNIAS SIMBIÓTICAS & HIDRATOS DE CARBONO

COLÓNIAS SIMBIÓTICAS & HIDRATOS DE CARBONO
Fevereiro 27, 2017 No Comments Probióticos Antonio Lopes

…ou, por outras palavras, porque os SCOBY (kefir de leite e etc) fermentam diversas bebidas…

.

RESUMINDO:

.

1. OS SCOBYs (COLÓNIAS SIMBIÓTICAS) QUE USAMOS, TAIS COMO O KEFIR DE LEITE / ÁGUA OU A KOMBUCHA ALIMENTAM-SE DE VÁRIOS AÇÚCARES:

Glucose, lactose (glucose + galactose), sacarose (glucose + frutose), frutose, galactose…

.

O Kefir de leite fermenta soja, a kombucha fermenta leite, os tibicos (kefir de água) fermentam aveia, etc, etc…

E por isso podem ser utilizados com sucesso em várias bebidas / leites vegetais produzindo um fermentado probiótico conforme comprovado por vários estudos científicos.

.

Para saber mais sobre a fermentação, leia aqui: O que é uma fermentação | Sobre os benefícios, aqui: Benefícios gerais dos fermentados.

.

.

DESENVOLVIMENTO:

É muito comum em vários sites e grupos do facebook a polémica sobre a utilização do kefir de leite em bebidas vegetais ou em água.

.

Gostava de deixar aqui a minha experiência de utilizador e a informação técnica que fui reunindo ao longo dos anos.

.

Naturalmente, sendo leigo na matéria, a minha interpretação da informação recolhida pode ser incorrecta…. resta a experiência para confirmar resultados e ideias.

.

.

2. O KEFIR DE LEITE / ÁGUA, A KOMBUCHA (…) SÃO COLÓNIAS SIMBIÓTICAS.

Mas o que significa isso e qual a sua relevância para esta questão?

.

Colónia simbiótica, para o caso que nos interessa, é um agregado de microrganismos que vivem numa relação de mútua dependência.

.

.

Na prática isso significa que:

Apenas alguns são responsáveis pela produção e manutenção dos grãos / bolachas onde todos vivem;

.

Uns iniciam a fermentação reduzindo o pH e preparando o “terreno” para que outros continuem o seu trabalho;

.

No caso específico do leite, os microrganismos que conseguem “trabalhar” com a lactose vão “alimentar” aqueles que não o fazem.

.

Ex: A levedura Saccharomyces cerevisiae tantas vezes identificada nos grãos não utiliza a lactose no seu metabolismo.

Como se alimenta então?

.

Outros microrganismos como o Lactococcus lactis ou a levedura Kluyveromyces marxianus vão quebrar a lactose nos dois açúcares que a constituem (glucose e galactose).

.

Dessa forma, a S.Cerevisiae irá utilizar a glucose presente.

.

.

.

3. OS MICRORGANISMOS QUE COMPÕEM O KEFIR DE LEITE EXISTEM APENAS NO LEITE?

NÃO.

(ver tabela no fim do texto)

.

.

.

4. CADA MICRORGANISMO ALIMENTA-SE APENAS DE UM TIPO DE AÇUCAR?

NÃO.

Existe uma grande diversidade de açúcares na natureza e diferentes microrganismos têm capacidade de utilizar algumas variedades.

(ver tabela no fim do texto)

.

Nota: 

Não conheço um único microrganismo que tenha sido identificada nos nossos SCOBYs que não se alimente também da glucose.

Ou seja, o kefir de leite, mesmo sem ter lactose, continua a ter alimento garantido.

.

.

.

5. QUER DIZER QUE POSSO USAR QUALQUER DAS COLÓNIAS – KEFIRES, KOMBUCHA… – EM QUALQUER BEBIDA E O RESULTADO É O MESMO QUE O ORIGINAL?

NÃO.

Em face de diferentes líquidos a fermentar, de açúcares, temperaturas, pH inicial das bebidas e até mesmo se a fermentação for com ou sem ar, o comportamento da colónia, o produto bioquímico da fermentação será diferente.

.

Os resultados que estamos habituados a obter com o kefir em leite de vaca não são os mesmos em leite/bebida de amêndoa.

.

Mas também não é o mesmo em leite de cabra, nem nos diferentes tipos de leite (crú, pasteurizado e uht).

.

E também não é o mesmo se os animais forem de “criação biológica” ou “industrial”.

.

.

.

6. MAS SE AS COLÓNIAS SE ALIMENTAM DE DIVERSOS HIDRATOS DE CARBONO, PORQUE TANTAS PESSOAS DIZEM QUE AS SUAS MORREM OU DEIXAM DE CRESCER?

MORTE:

Falando pela minha experiência pessoal, nunca me morreram, até ao momento, colónias de kefir de leite em bebidas vegetais.

E mesmo dois anos sem lactose não os matou nem deixaram de fermentar.

.

Por outro lado, existem pessoas que afirmam que mesmo em leite os seus grãos morreram.

.

Em ambas as situações, o que constatei ao fim de vários anos a dar apoio e formação é que os utilizadores, sobretudo os que se iniciam, não sabem o que é uma fermentação, não sabem distinguir uma fermentação bem sucedida de uma que não gostam, confundindo o seu gosto pessoal (sabor / olfacto) com bioquímica.

.

Em muitos casos, não sabem sequer como comprovar se os grãos, de facto, morreram.

.

Isto, não apenas em pessoas que se estão a iniciar, o que seria normal, mas também em pessoas que utilizam há vários anos e que assumem a responsabilidade de ensinar outras.

.

.

DEIXAREM DE CRESCER (tornarem-se não propagáveis):

Infelizmente nunca vi nenhum estudo continuado sobre este assunto nem uma descrição pormenorizada sobre o que acontece aos grãos em caso de longa ausência de lactose.

.

O que suponho e é mesmo um tiro no escuro, é que os microrganismos responsáveis pela construção da matriz (os grãos), dependem da hidrolização da lactose para o seu trabalho de reprodução dos grãos.

.

Os testes que efectuei demonstraram que, para os SCOBY que tinha, um período de dois meses sem lactose não era suficiente para os tornar não propagáveis.

.

Uma vez devolvidos ao leite animal, voltaram a crescer.

OU SEJA, NESTE CASO ESPECÍFICO, OS DOIS MESES SEM LACTOSE NÃO PROVOCARAM PERDA DE QUALIDADE DA COLÓNIA.

.

Os mesmos testes demonstraram também que bastava pouca lactose para manter a colónia saudável e a crescer: uma colher de café de leite magro em pó.

.

.

Nota:

Várias pessoas referem ter kefir em leite de soja e este cresce.

Uma delas dava activamente desses grãos no nosso grupo.

.

Os grão eram pequenos (tipo 5), não cresciam mas multiplicavam-se.

.

E antes que digam que era o resultado de estarem a passar fome, também existem desses grãos em leite animal (ver aqui).

.

Para uma forma simples de manter os grãos garantindo que não perdem propriedades, veja aqui.

.

.

.

7. MUDAR O KEFIR DE LEITE PARA BEBIDAS VEGETAIS, POR EXEMPLO, PRODUZ RESULTADOS PROBIÓTICOS?

SEM DÚVIDA QUE SIM. Existem diversos estudos sobre o assunto.

.

Não apenas se produz uma bebida de qualidade probiótica, como até pode eventualmente obter um produto superior ao que se conseguiria com leite animal.

.

Consulte a bibliografia no fim do texto.

.

.

.

8. ENTÃO E O KEFIR DE ÁGUA, A KOMBUCHA OU O JUN?

Certamente que sim e ainda é mais fácil esse uso.

.

Enquanto colónias simbióticas alimentam-se de vários açúcares e, além disso, sendo o açúcar (sacarose) ou o mel fáceis de encontrar e de adicionar a diversas bebidas esta utilização é ainda menos problemática.

.

No entanto, não quer dizer que funcione com todos os SCOBY.
Retirar o chá à kombucha, por exemplo, pode fazer com que com o passar do tempo as bolachas vão nascendo cada vez mais frágeis e não atinjam a grossura que as suas irmãs que não foram mudadas.

.

.

Por outro lado, algumas bolachas passam bem sem o chá, produzindo novas bolachas de forma consistente, o que comprova da diversidade da constituição microbiológica da kombucha.

.

.

Aqui podem verificar um exemplo de kombucha a fermentar leite de vaca. E a respectiva bolacha que nasceu o que comprova que não é necessária  sacarose para haver formação de nova bolacha.

.

E aqui o resultado saboroso do Jun, em leite de vaca e mel.

.

.

 

É comum ler-se as recomendações que o melhor SCOBY para usar com bebidas vegetais é o kefir de água.

.

Pessoalmente, apesar de usar tanto o de leite quanto o de água, prefiro de longe usar o de leite.

.

.

.

9. SERÁ QUE OS GRÃOS DE KEFIR PERDEM PROPRIEDADES E VARIEDADE DE MICRORGANISMOS SE FICAREM MUITO TEMPO SEM LACTOSE? FICANDO UMA ESPÉCIE DE IMITAÇÃO DO ORIGINAL?

Naturalmente, seria preciso um estudo específico para confirmar esta questão e infelizmente não conheço nenhum.

.

No entanto, como referido, vários meses sem lactose não os impediu de crescer nem anos os impediram de continuar a fermentar (logo, a alimentarem-se).

.

A haver algum efeito prejudicial sobre a microbiota dos grãos, seria sobretudo sobre os que especificamente necessitam da lactose para fazerem os grãos crescerem. E mesmo esta questão não é óbvia.

.

Aliás, é justamente porque os nossos probióticos são colónias simbióticas que esse problema é ultrapassado e, sabendo que análises aos vários SCOBYs em vários países revelaram diferenças substanciais entre diferentes colónias, demonstra que manter o alimento original dos grãos não garante nada.

.

.

.

10. O QUE PODE ACONTECER AOS GRÃOS DE KEFIR DE LEITE QUANDO NÃO SE ALIMENTAM?

CASO PRÁTICO: PERDEM BIOMASSA (reduzem de tamanho) DE FORMA CONTINUADA ATÉ DESAPARECEREM.

.

Há uns anos atrás tive uns grãos de kefir que me foram dados por uma russa e que faziam muito rapidamente um excelente leite fermentado.

.

Mais saboroso apenas o Viili que me foi dado pela primeira vez e um cáspio que tinha, embora a diferença não fosse muita.

.

Com essa russa aprendi a utilizar o kefir em bolsa de gaze.

.

Em determinada altura, deixei de usar gaze e mudei para compressa em não tecido, a qual tinha uma trama mais compacta.

.

Ao fim de uns meses, estranhei que o kefir não crescia e abri a bolsa.

Resultado, tinha lá dentro um grão de kefir minúsculo.

Fermentava mas nunca mais aumentou de tamanho.

.

Haviam apenas duas outras pessoas a quem tinha dado esse kefir e ambas estavam a usar o mesmo sistema de bolsa com o mesmo tipo de compressa. Avisei-as do que tinha acontecido mas nenhuma abriu a bolsa para comprovar.

.

Quando o fizeram o kefir tinha desaparecido e dentro da bolsa havia apenas leite.

.

.

Não voltei a repetir a experiência para comprovar esta questão, mas não deixa de ser curioso que a única vez que perdi grãos foi em leite de vaca.

.

De qualquer forma, isto parece indicar que o resultado de falta de alimento dos grãos não resulta na sua morte mas no seu desaparecimento.

.

.

.

11. MICRORGANISMOS

QUAIS OS HIDRATOS DE CARBONO (HC) & ONDE VIVEM?

.

Alguns Exemplos de microrganismos que são habitualmente identificados nos fermentados tradicionais.  

.

LACTOBACILLUS ACIDOPHILUS

HC – Glicose, lactose, sucrose, galactose, Cellobiose,  maltose,  trehalose (…)

Onde? Leite, Tracto gastro intestinal (TGI), Vagina, Boca.

 

LACTOBACILLUS BREVIS

HC – Glicose, Manose, Galactose (…)

Onde? Leite, vegetais, pão, cerveja

.

LACTOBACILLUS DELBRUECKII subsp BULGARICUS 

HC – glicose, galactose, lactose
Onde? Leite.

.

LACTOBACILLUS PLANTARUM 

HC – Sacarose, frutose, glicose, galactose, lactose, maltose.

Onde? Vegetais, frutas, cereais, leite, TGI (humanos e animais)…

.

LEUCONOSTOC MESENTEROIDES

HC – Sucrose, Frutose, Glicose, Lactose

Onde? Frutas, vegetais, leite, carne

.

SACCHAROMYCES CEREVISIAE

HC – Glicose, sucrose, maltose

Onde? Cerveja, Vinho

.

.

.

.

~/~

.

.

.

.

APOIE O NOSSO PROJECTO:

Visite este site regularmente  e partilhe os nossos artigos.

.

Inscreva-se no nosso grupo do Facebook:

PROBIOTICAMENTE

m.facebook.com/groups/621311187988433

Saúde | Corpo & Mente

Alimentação, probióticos & suplementação;
Horticultura bio | Arquitectura sustentável
Higiene e cosmética naturais
(…)
.

.

.

.

.

~/~

.

.

.

.

BIBLIOGRAFIA & REFERÊNCIAS

.

[2] – “Kefir – a complex probiotic / Edward R. Farnworth”; Food Research and Development Centre, Agriculture and Agri-food Canada, St. Hyacinthe, Quebec, Canada J2S 8E3. 2005.

.

[6] – “Microbiological study of lactic acid bacteria in kefir grains by culture-dependent and culture-independent methods”, Hsi-Chia Chen, Sheng-Yao Wang, Ming-Ju Chen;  National Taiwan University; January 2008

.

[13] – “Caracterização de bactérias láticas da Microbiota de grãos de kefir cultivados em leite Ou água com açúcar mascavo por metodologias Dependentes e independentes de cultivo”, Débora Fereira Zanirati, 2012.

.

[15] – “Some physiochemical analyses of kefir produced under different fermentation conditions”; Ahmed A. Ismaiel, Mohamed F. Galy, Ayman El-Naggar. 2010.

.

[16] – “Biotechnology of Lactic Acid Bacteria – Novel Applications”; Edited by Fernanda Mozzi, Raúl R. Raya and Graciela M. Vignolo; Blackwell Publishing. 2010.

.

[17] – “Influence of different culturing conditions on kefir grain increase”; Anine Schoevers and Trevor J. Britz; International Journal of Dairy Technology; August 2003.

.

[18] – “Effects of different milk types and starter cultures on kefir”; Zübeyde Öner, Aynur Gül Karahan, Mehmet Lütfü Çakmakçı; 2009.

.

[22] – “Microbial species diversity, community dynamics, and metabolite kinetics of water kefir fermentation”; David Laureysa and Luc De Vuysta; 2014.

.

[32] – “Bacterial Inhibition and Antioxidant activity Of Kefir produced from Thai jasmine rice milk”; Deeseenthum Sirirat, Pejovic Jelena; 2010.

.

[33] – “Rheological characteristics and nutritional aspects of novel peanutbased

kefir beverages and whole milk kefir”, Bensmira, M. and Jiang, B. 2012

.

[34] – “New cocoa pulp-based kefir beverages: Microbiological, chemical composition and sensory analysis”; Cláudia Puerari, Karina Teixeira Magalhães, Rosane Freitas Schwan; Food Sciences Biology Department, Federal University of Lavras, Brazil.

.

[35] – “Propriedades funcionais tecnológicas das fibras de soja, aveia e trigo e produtos de soja com adição de fibras e fermentados com cultura (mãe) de kefir”; Tahis Regina Baú, Letícia Cardoso da Silva, Sandra Garcia, Elza Iouko Ida; 2012

.

[36] – Physicochemical, microbiological and sensory characteristics of Soymilk Kefir;

Harun KESENKAS, Nayil DĐNKÇĐ, Kemal SEÇKĐN, Özer KINIK, Siddik GÖNÇ, Pelin Günç ERGÖNÜL and Gökhan KAVAS;  2011

.

[37] – “Antioxidant Properties of Kefir Produced from Different Cow and Soy Milk Mixtures”; Harun KESENKAŞ, Nayil DİNKÇİ, Kemal SEÇKİN, Özer KINIK, Sıddık GÖNÇ; 2011.

.

[38] – “Effects of cow’s and goat’s milk as fermentation media on the microbial ecology of sugary kefir grains”; Hsieh HH, Wang SY, Chen TL, Huang YL, Chen MJ; 2012.

.

[42] – “Identificação de microrganismos isolados de grãos de kefir de leite e de água de diferentes localidades”; Maria Gabriela da Cruz Pedrozo Miguel; 2009.

.

[46] – “Kefir D’Aqua and Its Probiotic Properties”; José Maurício Schneedorf.

.

[85] “Isolamento e Caracterização Bioquímica das Bactérias do Ácido Láctico do Queijo São Jorge DOP –  Dissertação de Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar”; Lucrécia de Jesus Melo da Silva, 2011.

.

[86] “Produção de ácido lático por lactobacilos em diferentes meios de cultivo”; Angela Romero Lopes, 2008

Sobre o autor

Leave a reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *