USO DE VINAGRE COMO STARTER PARA KOMBUCHA
USO DE VINAGRE COMO STARTER PARA KOMBUCHA
Resumindo este artigo nos aspectos que considero mais importantes:
1. Utilizar vinagre do mais barato, sem culturas vivas, é 100% seguro.
2. Vinagre com culturas vivas: pode acontecer que este tenha (ou não) nematóides, um organismo não parasitário considerado inofensivo. Antes de utilizar, sugiro que teste para verificar (ponto 5).
.
.
Quando se recebe uma SCOBY de kombucha sem o líquido inicial é habitual sugerir-se o uso de vinagre em sua substituição.
.
Este procedimento apenas necessita de ser utilizado uma vez já que no fim da fermentação haverá vinagre de kombucha para iniciar a próxima.
.
O vinagre de compra é usado sem preocupação por muitas pessoas embora exista quem objecte completamente esta prática por vários motivos, os quais apresento abaixo.
.
1. Altera o sabor
Este é um argumento que me parece desprovido de qualquer importância.
a) Se fizermos a kombucha com chá preto, verde, branco, amarelo, oolong…. altera o sabor.
Se misturarmos chá com infusões; usarmos diferentes açúcares, temperaturas de preparação do chá e fermentação, diferentes recipientes, efectuarmos aeração… altera o sabor.
.
.
b) A alteração de sabor pela introdução de um starter de vinagre de compra (quantas pessoas notarão?) apenas permanece para essa fermentação. Da próxima vez já não se nota.
.
.
.
.
2. As mães de vinagre (MdV) de maçã são mais MdV e menos SCOBY.
Parece-me que existe aqui uma aplicação destas siglas que revela falta de informação.
MdV e SCOBY podem ser palavras sinónimas ou não, dependendo das culturas a que se aplicam.
.
SCOBY é o acrónimo para Cultura Simbiótica de Bactérias e Leveduras.
MdV é o acrónimo para Mãe de Vinagre. Em Inglês: MOV.
.
O kefir de leite é uma SCOBY, mas não é uma MdV.
.
A Kombucha é uma MdV / SCOBY, tal como as MdV de vinagre de maçã ou de vinho.
.
.
O uso destas culturas mãe foi descrito por Louis Pasteur (1868) que utilizou o termo “mãe de vinagre” para descrever essa “massa de microrganismos vivos que induziam a fermentação ácido-acética”.
.
O termo SCOBY surgiu na década de 1990, quando Len Porzio o cunhou para se dar um nome à massa gelatinosa formada durante a fermentação do chá (kombucha).
.
Na realidade, a Kombucha é uma mãe de vinagre.
O resultado final da sua fermentação é uma bebida que cheira e sabe a vinagre, resultado do papel desempenhado pelas bactérias ácido acéticas que compõem e caracterizam as culturas de MdV.
.
Mesmo que o seu perfil microbiológico apresente diferenças em relação a outras MdV.
O que não é de espantar, esse perfil varia até entre kombuchas de diferentes origens.
.
.
Nota:
Tanto o kefir de leite como o de água têm várias bactérias ácido acéticas na sua composição mas o seu papel é muito secundário (sobretudo no de leite) para o sabor/cheiro final do fermentado.
.
.
.
.
3. As bactérias das mães de vinagre (MdV) de kombucha e de maçã são totalmente diferentes.
Esta afirmação é falsa.
a) A matriz das MdV / SCOBY é produzida por bactérias ácido acéticas.
.
Alguma leitura sobre a microbiologia destas culturas encontraria microrganismos partilhados entre ambas as MdV de vinagre de cidra e de kombucha.
.
Como as A. Pasteurianus, A. aceti e K. Xylinus, por exemplo, sendo a última considerada preponderante para a formação da bolacha de Kombucha e outras MdV.
.
Descobrir-se-ia igualmente que, por exemplo, as A. Pasteurianus e Aceti são também identificadas no Kefir de leite e que a A. Pasteurianus desempenha um papel na fermentação do Cacau.
.
.
b) Não deixando de ser verdade que a microbiota de ambas é diferente, até porque o vinagre de cidra tem uma origem mais alcoólica que o vinagre de Kombucha, também é certo que a microbiota das kombucha são diferentes entre si, conforme comprovado por vários estudos analisando SCOBYs de origens diferentes.
.
.
c) Aliás, a cultura de kombucha que agora tem em casa, se a mantiver durante tempo suficiente, mudará a sua microbiota.
.
.
Portanto, haver diferença entre MdV não é algo que seja “mau” ou “anormal”.
Antes pelo contrário, é a norma.
.
Estas diferenças em termos de microbiota dos vinagres está presente também no vinagre de cidra, bastando para isso, a origem da matéria-prima.
Por exemplo, se é de cultura orgânica ou não, é suficiente para ter MdV diferentes.
.
.
Nota:
Em termos de SCOBYs – sejam MdV ou kefir de leite / água – não li até ao momento qualquer referência a microbiota 100% imutável e específica, já que os micro que compõem as SCOBY estão presentes no nosso meio ambiente, funcionando de forma muito abrangente quando se trata de fermentar alimentos.
.
.
.
.
4. Misturar vinagre de maçã à kombucha cria um híbrido e deixa-se de ter kombucha.
a) A possibilidade de haver uma transferência de microrganismos da MdV de maçã para a de kombucha apenas é válida se o vinagre contiver culturas vivas.
.
.
b) Sendo possível a aquisição por parte da nova bolacha de microrganismos específicos vindos do vinagre de maçã, não existe qualquer garantia que assim seja.
.
Aliás, havendo microrganismos em comum entre essas MdV, até que ponto essa transferência poderá ser relevante?
.
.
c) Por outro lado, a Kombucha é, pela sua característica de biofilme/MdV, um “híbrido”.
A aquisição pela kombucha de micro oriundos de outra MdV ou dos existentes na nossa casa faz parte do processo natural destas culturas.
.
Logo, dizer que a MdV kombucha se vai tornar um híbrido parece-me um pleonasmo.
.
.
Nota:
Não deixa de ser curiosa a preocupação com tornar a Kombucha um híbrido de vinagre de maçã quando as mães de vinagre serão o “produto original” e a kombucha o resultado de hibridação que é facilitada pela sua forma de produção mais “permissiva”.
.
.
.
.
5. Presença de nematóides
a) Estes organismos não parasitários (considerados inofensivos) podem estar presentes (ou não) no vinagre de maçã cru.
A sua presença na Kombucha por usar vinagre de maçã como starter temporário não se coloca se comprar vinagre comercial esterilizado. Daquele mais barato.
.
.
Para testar se estão presentes no vinagre que comprou ou na sua kombucha, leve o frasco de vidro para um sítio completamente escuro e aponte a luz de uma lanterna para dentro do frasco. Verá os nematóides a mexer em direcção à luz.
(Se for um frasco que não seja transparente, aponte pela boca do mesmo).
http://kombuchahome.com/tell-kombucha-vinegar-eels/
.
.
b) Mesmo que não os veja, pode ser detectada a sua presença pela deterioração sofrida pela SCOBY de Kombucha.
.
.
Nota:
Este ponto 5 é o único argumento que me parece válido para se ter cuidado em utilizar vinagre cru, com culturas vivas.
.
Mas que, como demonstrado acima, é muito fácil de comprovar em segurança.
.
.
~~//~~
.
.
Saiba mais sobre a Kombucha / Jun:
A kombucha é uma mãe de vinagre
Que chá e infusões usar na Kombucha
Contra-indicações e benefícios
Como armazenar o excesso de bolachas: Hotel
Outras utilizações para a kombucha
.
.
.
~/~
.
.
.
APOIE O NOSSO PROJECTO:
Visite este site regularmente e partilhe os nossos artigos.
.
Inscreva-se no nosso grupo do Facebook:
m.facebook.com/groups/621311187988433
.
.
~~//~~
.
.
BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS:
“Acetic Acid Bacteria: Ecology and Physiology”; editado por Kazunobu Matsushita, Hirohide Toyama, Naoto Tonouchi, Akiko Okamoto-Kainuma; Ed. Springer.
.
“Comparison of Cultivable Acetic Acid Bacterial Microbiota in Organic and Conventional Apple Cider Vinegar.”; Aleksandra Štornik, Barbara Skok and Janja Trcek; 2016.
.
“Composição química e propriedades funcionais no processamento de vinagres”; Estêvão Zilioli; 2011.
.
“Physiology of Acetic Acid Bacteria and Their Role in Vinegar and Fermented Beverages”;
Kieran M. Lynch, Emanuele Zannini, Stuart Wilkinson, Luk Daenen, Elke K. Arendt; 2019.
.
“Kombucha: caracterização da microbiota e desenvolvimento de novos produtos alimentares para uso em restauração”, Mafalda Jorge dos Santos, 2016.
.
“Komagataeibacter xylinus as a novel probiotic candidate with high glucose conversion rate properties”; Paria Sadat Lavasani, Elahe Motevaseli, Nafiseh Sadat Sanikhani, and Mohammad Hossein Modarressi; 2019.
.
“Characterization of cellulose production by a Gluconacetobacter xylinus strain from Kombucha”; Nguyen VT, Flanagan B, Gidley MJ, Dykes GA;
.
“Sequence-based analysis of the bacterial and fungal compositions of multiple kombucha (tea fungus) samples”; Alan J. Marsh, Orla O’Sullivan, Colin Hill, R. Paul Ross, Paul D. Cotter.;
.
“The vinegar book”; Emily Thacker.
.
“Microorganisms in Fermented Apple Beverages: Current Knowledge and Future Directions”; Fabien J. Cousin, Rozenn Le Guellec, Margot Schlusselhuber, Marion Dalmasso, Jean-Marie Laplace, and Marina Cretenet; 2017
.
“Microbiological analysis and control of the fruit vinegar production process”; Claudio Esteban Hidalgo Albornoz; 2012.
.
“Microbiology of Vinegar: from Isolation, Phenetic Characterization and Detection of Acetic Acid Bacteria to Microbial Profiling of an Industrial Production”; João Nuno Serôdio de Melo;
.
“Microbiological Exploration of Different Types of Kefir Grains”; Stavros Plessas, Chrysanthi Nouska, Ioanna Mantzourani, Yiannis Kourkoutas, Athanasios Alexopoulos and Eugenia Bezirtzoglou; 2016.
.
.
https://www.happyherbalist.com/kombucha-cautions-and-safe-brewing-tips-1/
.
https://fairment.de/essigaelchen-im-kombucha/
.
https://www.kombuchakamp.com/what-is-kombucha/history-and-legends-of-kombucha
.
.